por C.A » 19/Dez/2018 02:47
Li pacientemente todas a mensagens do tópico e confirmei um conhecimento que aprendi ainda na escola técnica.
Todo engenho tem um fim.
Ou seja, toda obra tem um objetivo, e por consequência uma ou mais condições pra existir.
Uma casa precisa estar construída sobre um solo que a suporte, caso contrário desmorona. Todo projeto precisa de premissas (condições) para funcionar e um objetivo a alcançar dadas essas premissas.
Quais eram as premissas do enertron?
Todos estão cansados de saber: país pobre, pouca infra estrutura, povo descuidado, impossibilidade (da gurgel) de especificar pecas próprias e de fabricar motores vistosos, concorrencia superior, dentre outras condições...
Dadas essas premissas, quais eram os objetivos do motor?
Todos também sabem: impulsionar o BR800 na cidade ou na estrada em velocidades de até 90km/h, ser econômico em todos os cenários de utilização previstos, ser fácil e barato de fabricar, ser fácil e barato de manter.
Dadas as premissas e dados os objetivos, o enertron é um motor bem sucedido?
Sem dúvida que sim!!!
Se usado dentro do escopo para o qual foi especificado, ele entrega um desempenho impecável, atingiu todos os objetivos.
O que tem gerado controvérsia nos tópicos é algo que é perfeitamente normal: cada um tem o próprio gosto.
Não condeno quem goste dos Gurgel 800 mas ache o desempenho fraco. Cada um tem suas preferências. Tão pouco condeno quem acha a alteração de característica um sacrilégio.
Um carro é um objeto, não um ser. E altera-lo ou não dependerá única e exclusivamente da vontade de seu dono.
Baseado no conhecimento que tenho, sou do partido de que não se deve alterar características de máquina alguma, principalmente das que levam a gente dentro.
Mas algumas alterações são bem vindas.
O que eu acho revoltante são as comparações superficiais e até mesmo esdrúxulas do enertron com outros motores de sua época (e pior ainda, com motores e padrões atuais) quando na verdade o enertron é único no Brasil e tem uma concepção muito rara (existem poucos projetos bons de motores de baixa cilindrada) também em nível mundial.
Quanto a quebra do virabrequim, de fato ela é um problema de projeto, mas não creio que seja de material. A gurgel cansou de afirmar que a liga do virabrequim do BR era a mesma do VW a ar. Partindo do princípio de que a engenharia da gurgel não mentiu, deve haver outra causa. Provavelmente seja pelo fato do próprio eixo ser pequeno e ter apenas dois apoios, permitindo que o eixo flexione além dos limites de projeto, algo que não acontece no VW por ter três apoios e essa característica limitar a flexão.
O fato é que este motor foi muito bem dimensionado para o envelope de uso que teria.