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Publicações - Quatro Rodas nº 564 (abril de 2007) seção Grandes Brasileiros (página 34 e 35)
Gurgel Itaipú
Ligado no futuro
Com apenas cinco anos de mercado, a Gurgel apresentou o primeiro carro elétrico da América Latina
Por Fabiano Pereira Fotos: Marco de Bari
 Gurgel Itaipú: Entre os faróis de iodo fica a entrada para recarga
Carros elétricos já existem desde o século 19. Eles nasceram quase que junto com o automóvel de motor a combustão, em 1886, e duraram com relativo sucesso até 1915, quando o estrondoso sucesso do Ford T ajudou a definir a receita que prevaleceria na indústria. Enquanto nos países desenvolvidos a opção elétrica para carros só era empregada em estudos futuristas, em 1974 o engenheiro paulista João Conrado do Amaral Gurgel concluiu seu pioneiro projeto de carro elétrico, o primeiro da América Latina.
Com a crise do petróleo no ano anterior, houve desabastecimento e os preços dispararam. Haveria melhor momento para a apresentação do Itaipú? O nome é uma homenagem à usina hidrelétrica na fronteira do Brasil com o Paraguai. O lançamento se deu no Salão do Automóvel de 1974. Gurgel programou despejar uma frota de 20 unidades pelas ruas de Rio Claro (SP), sede da fábrica, a partir de junho de 1975. Seria um teste tanto do carro quanto do sistema integrado de estacionamento e reabastecimento. Cada carro teria um local próprio para estacionar, onde o motorista encontraria um pequeno poste com a tomada para recarga. A fabricação deveria começar em dezembro de 1975 a um preço equivalente ao de um Fusca 1300 (22.577 cruzeiros, 28.809 reais em valores atualizados) em dezembro de 1974.
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O velocímetro original ia até 80 km/h. Nesta versão, vai a 120 |
Quer checar a carga? |
O Itaipú tinha a forma de um trapézio sobre rodas, com carroceria de fibra de vidro. Com 2,65 metros de comprimento por 1,40 de largura, poderia ser considerado um micromonovolume, se a definição existisse na época. Dentro há lugar para duas pessoas, mas o acesso é dificultado pela falta de regulagem dos bancos. Atrás dos assentos, há cerca de 1 metro de espaço, que pode levar a bagagem. O painel simples conta com velocímetro ao centro, ladeado por amperímetro e voltímetro, que indica a carga disponível na bateria.
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O motor era entre os eixos e não chegava a 5 cv de potência |
Cinco das 13 baterias alojavam-se sob a tampa traseira |
Existem diferenças entre o carro dirigido por QUATRO RODAS em janeiro de 1975 e o exemplar aqui mostrado. No primeiro, o volante era esportivo de três raios, o que combinava com as rodas de magnésio "castelinho". Este usa o do BR800. Três baterias ficavam na frente, duas atrás dos bancos e mais cinco na traseira. Nesta versão são dez atrás dos bancos, duas sob o assoalho e, para alimentar a parte eletroeletrônica, uma na frente. À direita do volante ficava a alavanca que definia qual direção seguir, para a frente ou para trás - ou ainda o ponto-morto.
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Pela chave, 1ª ou ré |
A alavanca define relação curta ou longa |
O motor entre os eixos gera 3,2 kW, equivalente a 4,2 cv. Ele usa o sistema composto, que une dois tipos de motor de corrente contínua, os de enrolamento de campo em série e em paralelo. "Essa combinação confere alto torque de partida, característica dos motores elétricos de campo em série, e controle de velocidade uniforme, característica dos motores elétricos de campo em paralelo", diz um engenheiro elétrico paulista integrante do grupo BR800, que reúne aficionados por Gurgel. Como é de se esperar de um carro elétrico, o rodar impressiona pelo silêncio. O Itaipú chega a cerca de 50 km/h. O tamanho facilita manobras e as frenagens seguram o carro sem surpresas. "Ele tem autonomia de 60 a 80 quilômetros", afirma o dono do exemplar destas fotos, um industrial do interior paulista que, como o engenheiro, preferiu não ser identificado.
 Carroceria de fibra e janela corrediça
Mesmo com o custo por quilômetro rodado da eletricidade sendo menos da metade do da gasolina, era mesmo a autonomia o maior problema do Itaipú. Com o peso e a capacidade limitada das baterias, além do inconveniente de a recarga levar dez horas, o experimento de Gurgel não passou da fase de protótipo. Ainda que tenha sido apenas um ensaio, o pioneiro Itaipú sinalizou por aqui um caminho que foi negligenciado por décadas. E que agora se mostra como uma das opções menos agressivas ao planeta.
E-400 |
Em 1981, o nome Itaipú e a tração elétrica voltariam a figurar no catálogo da Gurgel, na forma do furgão E400, que teve uma pequena série produzida. Evolução do projeto original de 1974, tinha câmbio manual de quatro velocidades. O motor de 10 kW o levava até 75 km/h. O E400 seria a base para o G800, furgão com motor VW. |
Ficha técnica Gurgel Itaipú |
Motor | Central, longitudinal, elétrico de 3.000 watts/120 volts e 4,2 cv, com enrolamento de campo em série e paralelo |
Transmissão | caixa de engrenagens de 1 velocidade |
Baterias | 10 de 12 volts cada, ligadas em série |
Carroceria | monovolume, 2 portas, 2 lugares |
Dimensões | comprimento, 265 cm; largura, 140 cm; altura, 145 cm; entreeixos, 162 cm |
Peso estimado | 780 kg |
Suspensão | Dianteira: independente, tipo McPherson, molas helicoidais e amortecedores. Traseira: barras de torção e amortecedores |
Freios | a tambor com acionamento hidráulico |
Direção | pinhão e cremalheira |
Rodas e pneus | magnésio, aro 13 e tala de 6 pol; pneus 165X13 |
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