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Último capítulo

Fabricar o primeiro veículo inteiramente nacional sempre foi o ideal de João Augusto Conrado do Amaral Gurgel. Ele travou batalhas épicas nos moldes de Davi e Golias contra os interesses das grandes corporações automobilísticas.

Por: Paulo Prado
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação


Em agosto de 2007, o último capítulo do conturbado processo de falência da Gurgel Motores chegou ao fim. Na ocasião, o prédio que um dia foi a fábrica foi leiloado, e no lugar, em breve, será erguido um condomínio empresarial.

Durante 11 anos, a imagem do totem com o nome Gurgel estampado permaneceu intacta ao lado da Rodovia Washington Luís, na cidade de Rio Claro, interior do Estado de São Paulo, e dava a impressão de que o sonho não havia acabado, estava apenas adormecido.

O sonho do engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel de fabricar um carro genuinamente brasileiro foi concretizado, ele chegou lá e mostrou que, quando se acredita em um ideal, tudo é possível, que o brasileiro é capaz.

Mas o sonho virou pesadelo. O nacionalismo de Gurgel não foi compartilhado pelo mercado, muito menos pelos donos do poder, que preferiram apoiar interesses além dos nossos.


Muro da antiga fábrica

Muito já se falou sobre o assunto, inúmeras publicações destacaram a ousadia e a coragem do homem que lutou com todas as forças até o fim para não deixar morrer o fruto do trabalho de uma vida. Hoje, com mais de 80 anos, Gurgel vive com a família e, por sorte, não viu o triste desfecho de sua fábrica, já que está incomunicável devido ao mal de Alzheimer.


Amaral Gurgel sentado em sua mesa de projetos

Se hoje lúcido estivesse, Gurgel certamente encontraria conforto ao ver que, nas ruas, muitos de seus carros desafiam o tempo, firmes e fortes, deixando acesa a chama de seu sonho, perpetuada por milhares de apaixonados pela marca.

O professor João Ademar de Andrade Lima é um exemplo, e no relato apaixonado conta como nasceu a sua paixão.

Minha história num Gurgel


João Ademar com a herança do pai

Eu, particularmente, posso dizer, sem risco de cometer qualquer exagero, que fui literalmente criado a bordo de um Gurgel, mais precisamente de um modelo X-12 TL, 1976, comprado por papai em outubro daquele ano, dois meses antes de eu nascer.


João Ademar, quando criança, dentro do Gurgel

Com ele, papai, que era fiscal da carteira agrícola do Banco do Nordeste do Brasil, viajava pela caatinga, pelo brejo e pelo sertão do interior da Paraíba, da mesma forma que enfrentava o espremido centro de Campina Grande, estacionando em qualquer “brecha” e desbravando qualquer terreno.

Na ativa diária desde a sua compra, o nosso carrinho permaneceu em uso por 20 anos ininterruptos, praticamente até o falecimento de papai, em janeiro de 1997.

A partir daí, o nosso Gurgelzinho ficou parado, absolutamente parado, até que, em fins de 2006, no seu jubileu de pérola, resolvi ressuscitá-lo, dando-lhe de presente uma merecida reforma geral, uma das melhores iniciativas que tomei nos últimos anos. Um resgate à memória de papai e à minha própria história de vida e, sem dúvida, um investimento material e afetivo para as próximas gerações de minha família.

Outro que se diz um apaixonado sem limites é o empresário Paulo Emílio Freire Lemos. Em 2003, aproveitando que a marca e as patentes dos projetos haviam expirado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial, Lemos, em uma atitude oportunista, desembolsou 850 reais e registrou a marca em seu nome. Durante algum tempo, o empresário ficou quietinho, calado, até que o prazo de contestação fosse encerrado, e hoje importa triciclos agrários da China, vendidos aqui com o nome Gurgel.


Triciclo TA-01

A manobra do empresário na apropriação da marca foi considerada, segundo a filha e herdeira de Gurgel, Maria Cristina do Amaral, uma manobra imoral, e ela está tentando na justiça a revogação do registro.

Natural de Presidente Prudente, interior do Estado de São Paulo, Lemos se mantém alheio a tudo isso e diz não entender por que os herdeiros estão contestando. Segundo ele, sua atitude tinha de ser vista como um favor, já que está dando continuidade à marca e só espera resolver as pendengas judiciais em torno da questão para dar início a maior empreitada de sua vida, a de voltar a fabricar modelos célebres como o X12, o X15 e o Carajás, totalmente reformulados de acordo com os tempos modernos.

A atitude do empresário, embora considerada moralmente condenável, reforça que a credibilidade do nome Gurgel para vender carros e máquinas continua intacta.

Muita coisa ainda gira em torno do nome Gurgel. Até mesmo agora, nos tempos de governo Lula, o nome de João do Amaral Gurgel foi citado para rebater os benefícios defendidos pelo governo a respeito dos biocombustíveis como alternativa. Na década de 70, ele foi um crítico ferrenho do Pró-Álcool, em meio à empolgação dos militares na implantação do programa como alternativa viável a crise de petróleo.

Para ele, a melhor opção estava nos carros elétricos, e chegou até mesmo a fabricar um protótipo, o Itaipu. Visionário, defendia que a terra tinha de ser cultivada para plantar comida para o homem, e não para o carro, isso há mais de 30 anos.

Para quem curte histórias, principalmente as de automóveis, a saga de Gurgel na luta para se manter em um mercado liderado por gigantes conglomerados de multinacionais é, sem dúvida alguma, uma das mais ousadas biografias entre as de outros célebres brasileiros. Agradecimentos ao Jipe Clube Gurgel Guerreiro, em especial ao Fábio, pelas imagens cedidas.

A internet é uma fonte inesgotável de informação. No YouTube, basta digitar o nome Gurgel para assistir a milhares de vídeos que mostram a trajetória e a vida desse homem que, com certeza, entrou para a história como alguém que realmente acreditava no Brasil.

Fonte: Revista Fora de Estrada, nº 76 (novembro de 2008)


material enviado por João Ademar de Andrade Lima


Publicações >> DiversasPágina atualizada em: 08/09/2022 23:26



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