Uma breve história sobre repintura automotiva.
[post 2863, do Jorge Vila]
Assim que surgiram os primeiros carros, já se detectou a necessidade da repintura da carroceria e seus componentes. Além dos aspectos visuais a pintura tem a função de proteger contra a corrosão.
O primeiro sistema conhecido de pintura era à base de resina de pinho, obtida da extração de sua seiva, misturada com os pigmentos disponíveis, que eram a base de minerais, oxido de ferro (ferrugem), negro de fumo (carbono) azul da Prússia (sal mineral desta região) e alguns amarelos e verde a base de sais de chumbo, zinco e outros minerais. Esta tinta secava por evaporação dos solventes e sua secagem parcial levava até uma semana.
Os desenvolvimentos vieram a passos lentos até os anos 60, quando se desenvolveram as tintas a base de nitrocelulose (Duco, marca DUPONT), de resinas sintéticas (Combilux, Glasurit) e entre outras marcas internacionais.
Os anos 70 ficaram famosos pelas tintas acrílicas, que eram mais resistentes e com melhores resultados de beleza.
Bem, agora começa o verdadeiro "divisor de águas".
Todas as tintas mencionadas tinham alguma resistência ao intemperismo e boa resistência à corrosão, mas com
relação à resistência aos solventes, esquece. Elas simplesmente não funcionavam. Qualquer álcool, gasolina, atacava sua superfície deixando uma mancha de difícil remoção.
Nos anos 80 vieram as tintas de a base de poliuretano, onde as tintas não mais eram curadas por oxidação da suas resinas e metais, além da perda de solventes. As famosas tintas PU, são curadas por ação de um catalizador que fazem a resina atingir alta resistência, seja ao intemperismo, seja aos solventes, seja a abrasão. Ocorre que alguns fabricantes de tintas que para baixar os custos destas e acelerar o processo de secagem, adicionam resinas menos nobres, como acrílicas e alquídicas que prejudicam a performance das PU's. Então cuidado com as marcas mais baratas.
Senhores, falei um pouco sobre isto para chegar ao ponto chave da reparação dos nossos veículos, que é bem mais complicado do que a reparação em carros de chapas.
A fibra se "movimenta" bem mais que a chapa ao ser colocada sobre o calor, tipo o sol de 40 º C (fácil na praia), então tudo que estiver em cima desta deve ser flexível, mas sem perder a dureza e a capacidade de isolar a porosidade e irregularidades da fibra. E se querem bons resultados não façam economia neste item.
Falando do processo em si:
A carroceria deve ser lixada até a fibra, e se encontrar as famigeradas massas plásticas elas devem ser removidas e substituídas por laminação com fibra de manta e tecidos. A superfície deve ser lixada e nivelada e após este tratamento tem que ser aplicado um véu de superfície para isolar os "desenhos" da manta e tecidos. Veja os carros de fibra ao sol e verá que em sua maioria verá os "desenhos" da fibra nas tintas de acabamento.
Após aplicação do véu, tem que ser aplicado um bom isolador, normalmente é usado um gel primer de boa qualidade. Detalhe, não existe esta de só uma camada.
Você aplica uma camada, deixa ao sol, lixa, aplica nova camada, lixa e verifica se não ficou alguma imperfeição. Se ficar, aplica nova camada, lixa e deixa alguns dias ao sol para aflorar os defeitos. Quando estiver em ordem não tem outro tipo de primer adequado que não seja o primer PU de alto enchimento.
Só para se ter uma idéia, poucas empresas ainda produzem este produto, entre elas a Glasurit (eu usei ela no Hulk), Plastoflex, ou Lazzuril. Tem também o primer PU da DuPont, linha Standok, mas é muitíssimo caro, mas é a melhor linha de tinta do planeta (na minha opinião). Quando você notar que está lisinho, feito bunda de nenê, você deixa ao sol para ter certeza que não terá surpresa. Resista a tentação de usar um primer mais barato, como os "universais", que são primer de resina sintéticas comuns melhoradas com resinas vinílicas. É um primer "mole" que resolve no momento, mas que com o tempo não isola os problemas da fibra (como dito anteriormente) e sua tinta de acabamento vai ficar linda com os desenhos da fibra, do tecido, do lixamento e outros defeitos por conta do primer.
Quando estiver com bom acabamento, você deve lixar levemente e aplicar uma fina camada de primer PU para
permitir aderência das tintas de acabamento.
Se for cor lisa, compre-a em base de PU e aplique usando catalizador e solvente do mesmo fabricante.
Esqueça os "macetes" se você não conhece a fundo de tintas. Todo fabricante descreve no rotulo da lata os cuidados e padrões para uma ótima aplicação.
Se for dupla camada, aplicar a base poliéster de efeito metálico ou perolizado respeitando as recomendações do fabricante. Não demore muito para aplicar o verniz de acabamento e volte a seguir as recomendações do fabricante.
Um macete dos bons é após a ultima camada, é pegar um pouco do verniz catalizado e diluí-lo em cem porcento
por um solvente do próprio fabricante para esta finalidade. Normalmente este solvente é chamado melhorador de brilho, PU flow, solvente para igualar emenda entre outros nomes.
Com este procedimento o brilho aflora muito e você só precisará encerar o carro após 30 dias para criar uma camada de proteção, que pode ser a famosa cristalização. Mas lembre-se, não faça este polimento antes de 30 dias, pois este é o tempo necessário para a pintura eliminar todos os traços de solventes da pintura e o verniz ou tinta atingir sua dureza máxima.
Dá para fazer em casa. A fibra é fácil. Conseguir um bom resultado na pintura já complica bastante. Depende do equipamento e de prática. Já mudei a cor do meu X12 umas 4 vezes, sempre em casa. Cada vez fica bem melhor, mas longe da perfeição. Também já substitui a maior parte do chassi em casa, esta parte é bem mais fácil.
Texto retirado da lista de discursão do Gurgel guerreiro, autor desconhecido.